O governador Sérgio Cabral vai solicitar à Presidência da República apoio das
Forças Federais para conter os ataques em áreas pacificadas do Rio. Ele
anunciou a decisão na madrugada desta sexta-feira (21), depois de se reunir por
mais de duas horas com o gabinete de crise, convocado em caráter de urgência
após ataques em três áreas de Unidades de Polícia Pacificadora ocorridos na
noite desta quinta-feira (20). O mais grave deles ocorreu em Manguinhos, Zona
Norte, onde o comandante da UPP local foi baleado e a base da UPP Mandela foi
completamente incendiada.
Sérgio Cabral disse que ainda não sabe quais tropas deverão atuar no Rio, nem
por quanto tempo. Os detalhes serão discutidos em reunião agendada para as
11h desta sexta-feira no Palácio do Planalto. "A presidenta Dilma me atendeu
[por telefone] depois de uma viagem pelo Norte do Brasil esta noite. De imediato
ela se colocou à disposição de nos receber na parte da manhã em Brasília."
O governador voltou a enfatizar que o estado não irá recuar diante dos
constantes ataques em áreas já pacificadas. Segundo Cabral, a situação "é uma
evidência do enfraquecimento do tráfico" e que apoio de Forças Federais é "para
continuarmos avançando em nossa política de pacificação". Sem adiantar
detalhes da atuação federal, Cabral afirmou que "será uma coisa absolutamente
objetiva, pois são forças que já trabalharam juntas aqui para o bem comum da
população".
"Vamos passar a vida inteira resolvendo crises" Terminada a reunião, o
Secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame fez severas críticas ao
tratamento que se dá à segurança pública no Brasil. Ele qualificou como
"arcaico" o sistema penal e prisional do país, falou sobre o problema do
crescente uso de crack, da falta de controle das fronteiras, na maioridade penal
e do uso de armas de fogo por parte da população civil. "Se não discutirmos isso
tudo de forma ampla, vamos passar a vida inteira resolvendo crises e não
efetivamente resolvendo o problema de segurança pública".
Em relação aos ataques às UPPs, Beltrame voltou a enfatizar os problemas da
segurança pública que beneficiam os criminosos. "Pessoas atiram contra agentes
públicos porque, sem dúvida alguma, o crime vale a pena para elas. As pessoas
agem sem o menor temor às leis. Diante dessa crise que se avizinha, que
ameaça o Rio de Janeiro, nós viemos aqui e propomos um torniquete a ela. Mas
se não sanarmos o problema, não haverá solução", disse.
Quanto a atuação das Forças Federais, Beltrame disse que o governador pediu
sigilo e que detalhes só serão anunciados após a reunião com a presidente
Dilma. Porém, adiantou que as polícias civil e militar estão de prontidão para
garantir a segurança da população.
Sem recuo Antes da reunião com o gabinete de crise, o governador informou,
por meio de nota, que não irá recuar. Segundo ele, este tipo de atentado
equivale a “uma tentativa da marginalidade de enfraquecer a política vitoriosa da
pacificação, que retomou territórios historicamente ocupados pela bandidagem
para o controle do poder público.” Segundo Cabral, o Governo mantém “o firme
compromisso assumido com as populações das comunidades e com a população
de todo o estado do Rio de Janeiro de não sair, em hipótese alguma, desses
locais ocupados e manter a política da pacificação.”
"Alerta total" O comandante das Unidades de Polícia Pacificadora do Rio,
coronel Frederico Caldas, disse em entrevista à GloboNews que a Polícia Militar
está em estado de "alerta total" após os ataques a três comunidades com UPPs
em pontos distintos da cidade - entre elas duas sedes - na noite desta quinta-
feira (20). "A partir de agora a gente entra em um regime de atenção total, de
alerta total", afirmou Caldas.
Em Manguinhos houve o pior ataque. Criminosos atearam fogo que consumiu
completamente os contêineres da UPP Mandela. O comandante da UPP, capitão
Gabriel Toledo foi baleado e outro policial levou uma pedrada na cabeça. Tiros
foram registrados na UPP do Alemão.
"Na região de Manguinhos, na UPP Mandela teve os registros mais graves. O
estado de saúde dele [capitão Gabriel Toledo] é muito bom. Ele foi atingido na
perna com um tiro de pistola. Eu acabei de visitar o outro policial [atingido] que
está com um ferimento na cabeça, alvo de uma pedra", completou o comandante
das UPPs.
Caldas disse que o policiamento foi reforçado em todas as bases de UPPs da
cidade e que a PM está "com uma mobilização grande para evitar que novas
ações aconteçam". "A gente está muito atento para evitar que aconteçam novas
ações por parte de marginais. Não há dúvidas que a gente vai retomar. Não há a
menor possibilidade de recuo na pacificação", concluiu.